A VIDA E O CARNAVAL
Um brinde a minha amiga PATRICIA: Reflexões de vida, e porquê não do Carnaval na BAHIA??
A vida surpreende a gente de todas as maneiras... Temos a tendência a acreditar que tudo que nos acontece nas festas, nas farras, durante o carnaval, é muito divertido mas é passageiro... Com a nossa amizade, amiga, a história foi muito diferente. Estávamos na década de 80/ 90 quando o país descobriu a Axé Music e o carnaval na Bahia badaladíssimo, era a oportunidade de encontrar os amigos que não viviam e m Salvador. A nossa amizade e nossa cumplicidade nasceram naquela confusão de gente quando dividíamos muitos copos de capetas , latas de cerveja, litros de vodka , repartíamos abadás, compartilhávamos os paqueras, embolávamos nos colchões da casa dos nossos queridos tios ... Todo ano a diversão estava garantida. A gente dormia e acorda em clima de carnaval e não é exagero dizer que a gente respirava carnaval... A nossa única preocupação era co m a alegria e como conciliar a programação, de forma que não perdêssemos quase nada: Avenida, Barra, Bahiano de Tênis... Lá estávamos nós, juntas, curtindo tudo e todos. Era o momento de extravasar a nossa energia e a nossa ansiedade por desfrutar das boas coisas da vida... A gente vivia tão intensamente... Ìamos muitas vezes ao limite da nossa exaustão.
E entre uma música e outra do Araketu, do Olodum, do Chiclete, da Ivete, do Durval, da Daniela, e outros, a gente ia se conhecendo, descobrindo afinidades, interesses em comum e uma enorme disposição e expectativa pela vida. Profissão, casamento, filhos, tudo ainda para acontecer... Inclusive as mudanças entre Salvador e Goiânia: no caso, transferências para São Paulo, Rio de Janeiro... E a vida prosseguia...
O tempo passou e, sem que a gente tenha se dado conta, estávamos nós, a nossa turma reunida em 2010, em ITACIMIRIM, com a família e, o mais bacana, com filhos e novamente compartilhando alegrias, lembranças da adolescência e, fundamentalmente, comemorando a vida...
De uma época para outra, amiga, tanta coisa mudou, alguns ficaram pelo caminho deixando boas recordações, marcas e cicatrizes... Trocamos o trio elétrico pela paisagem do litoral norte e lá estávamos nós, sentados na barraca do Tomate, embalados por uma trilha sonora bem diferente: a melodia das crianças, todas falando ao mesmo tempo! Mas, se quase tudo mudou, a nossa amizade ficou, resistindo às ausências e às distâncias físicas ao longo dos anos.
Alguns poderiam dizer que nos carnavais vivíamos momentos da mais pura alienação. Pode parecer incrível amiga, mas, com o olhar no presente, acredito que aprendemos... Aprendemos que sem alegria a vida não tem graça e que a busca da felicidade não pode se tornar uma obsessão... ou seja, não dá para levar a vida tão a sério o tempo todo... Aprendemos ir atrás dos nossos objetivos e dos sonhos com a mesma disposição e obstinação que fomos atrás dos trios elétricos. (Daí, um exemplo, a nossa disponibilidade para as mudanças geográficas!) Aprendemos o quanto é importante se deixar levar em algumas situações, e encarar os acontecimentos de uma forma despretensiosa, pois quem pensa demais não vive!
Algumas outras boas lições foram sendo compreendidas: O dia a dia é bem diferente da euforia dos bailes carnavalescos, mais a leveza é fundamental para a nossa paz de espírito.
A vida tem as suas contradições e nada poderia ser tão fácil quanto aprender o repertório das letras de axé .... para isso bastava conhecer a sonoridade e a simplicidade das estrofes que o resto ia no embalo... E na vida fomos descobrindo um jeito próprio de se relacionar com os demais, convivendo com gente que só sabe dizer sim, com outros que sempre dizem não, co m aqueles que dizem não quando a nossa expectativa seria pelo sim, sem contar a turma que diz sim quando o melhor seria que fosse o não....
Aos pouquinhos, com o tempo, fomos descobrindo que tal e qual o carnaval , na vida tudo é misturado e barulhento , de forma que as surpresas, os tropeços e o imponderável acontecem, fazendo nos experimentar as mesmas sensações que sentíamos, garotas, quando nos dávamos conta que lá vinha o Chiclete e a sua pipoca arrastando e arrasando multidões... Quantas, outras vezes, sentimos o mesmo frio na barriga, a mesma insegurança, a mesma impotência por mais que tenhamos racionalmente procurado nos proteger?? E quantas outras vezes sentimos o mesmo cansaço do ritual carnavalesco e a mesma necessidade de se recolher, afinal, à custa de algum tipo de sofrimento, já internalizamos que o silêncio verdadeiro só existe dentro de nós!
Quando penso no Gilberto Gil, Caetano, nos Novos Baianos, no trio de Armandinho, Dôdô e Osmar e outros, vejo que o carnaval, naquela época, quando ainda éramos adolescentes, já nos chamava atenção para as virtudes daqueles que já viveram um pouco mais, o que se refletia na qualidade do seu trabalho e na sua forma de expressão, no conteúdo do seu discurso, tão admirados pelas outras gerações.
E nessas épocas em que a gente olha para trás e para frente e faz um balanço de tudo , posso concluir que a nossa amizade nasceu no meio desta euforia, em torno desta celebração e sempre foi motivo de comemoração encontro a encontro, ano a ano, década a década, e não há razão maior para cantarmos um alto e sonoro Parabéns, afinal diferentemente do carnaval eu, você, nossos outros amigos, primos e irmãos não sofremos processos de descaracterização e mercantilização, não passamos a vida escondidos atrás de fantasias. Mantivemos a nossa essência, nossas crenças, nossas convicções e o nosso AMOR ! Somos todos tietes! Uns dos outros! E o que há de melhor nesta vida???
Parabéns, amiga, pois você tem a mesma energia do verdadeiro Carnaval: você alegra, você diverte, você, fundamentalmente, AGREGA ! Permaneça assim sempre em qualquer idade!
Beijos e um brinde para lá de especial,
Xande